sábado, 17 de janeiro de 2009

Confissão...

Eis um pouco da história da minha vida…

Em miúdo engordei bastante, gordura essa que me acompanhou e se acumulou ao longo da minha adolescência, até que num certo dia, quando eu tinha quinze anos, me pesei e assustei-me. Com menos de 1,70 de altura e com 97kg não é preciso ser nenhum nutricionista para se perceber que estava muito acima do meu índice de massa corporal adequado. Sabia que, sendo gay, nunca iria conseguir ter nada assim. Fiz uma série de análises, marquei consultas de nutrição e de endocrinologia, e comecei a fazer uma dieta. Ao fim de quase três anos tinha perdido quase 40kg, chegando a certa altura a pesar 59,5kg, um peso já abaixo do indicado para mim. Nesse entretanto, muita coisa foi acontecendo. Acabei o secundário, entrei para a faculdade, fiz a viagem de finalistas, dei o meu primeiro beijo, perdi a virgindade.

Para mal do meu destino, essa dieta não foi acompanhada de exercício físico intenso, o que, como seria de esperar, provocou estrias, excesso de pele em alguns locais. Complexos de gordura, transformaram-se em complexos de outra natureza, mas sempre associados ao meu aspecto físico. Ainda assim, a minha vida sexual não deixou de existir por essa razão. Achei então que estava na altura de começar a praticar desporto. Conclusão: Entrei para um ginásio. O esforço tem recompensado, ganhei musculo, alarguei no peito, nos braços e na cintura. Ganhei peso e deixei de ter um aspecto tão magro. Ainda assim, por vezes, quando perco tempo em frente ao espelho entristeço-me pelo tempo que perdi que poderia ter sido aproveitado (do mal o menos, ao menos agora estou a recuperar o tempo perdido). Apesar de já possuir uma boa auto-estima, há sempre aquele momento de tristeza. E não me venham chamar de fútil por me entristecer por não possuir um corpo perfeito: Todos nós somos de certa forma escravos da estética e da beleza, seja qual for o nosso conceito de beleza.

Contudo, enquanto pensava nestas coisas num daqueles momentos que temos em silêncio no escuro, outra ideia começou a surgir-me na cabeça. Se há coisa que eu tenho feito ao longo destes últimos anos tem sido conhecer pessoas, de varias formas, muitas parecidas entre si, algumas diferentes do que estou habituado. Conheci, conversei, converso, saio, comento. E a conclusão a que chego sempre é que, sejas giro ou feio, os dramas são sempre os mesmos: Sexo, amor, traição, troca rápida de parceiro, desilusão amorosa, paixoneta. Tenhamos interesses comuns ou diferentes, se há coisa em que todos somos semelhantes é no que toca ao comportamento sexual. Claro que existem diferentes níveis de beleza, e consequentemente de parceiros, de interesses, formas diferentes de encarar o mesmo, mas no fundo, no cerne da questão, as duvidas e os problemas não diferente entre si na forma, podendo diferir no conteúdo. Todos, a certa altura, quer admitamos ou não, temos momentos de carência, sejam eles longos ou rápidos como um segundo. Não é porque és feio que ao te apaixonares por uma pessoa feia vais ter um relacionamento mais duradouro (existe um vasto mercado e gays feios…basta abrir a pestana!), e não é porque és o gajo mais giro do mundo que é sinónimo de Grande Puta.

Se há coisa que todos parecem procurar cada vez mais é esse alvo de perfeição pré estabelecido que nos faz andar sempre a correr de um lado para o outro. Essa ilusão de que “agora estou bem com este mas aquele ali parece ser ainda melhor” que nos impulsiona a largar aquele que até poderia ser o grande amor da nossa vida, por um outro que afinal não passou de uma queca ocasional, tudo porque achamos que o sexo vai ser melhor, porque se veste bem, porque é giro, porque tem pinta, porque isto ou porque aquilo.

Enfim, tudo isto saiu em tom de desabafo. Atenção que não sou feio! (lol) mas também não sou podre de bom. Sou apenas um gajo porreiro que só deseja viver em paz. A questão principal que coloco é essa:


é preciso que tudo seja perfeito para termos paz?

2 comentários:

Adão disse...

Acho que tentamos ser perfeitos, porque temos medo da rejeição. A verdade é que quando atingimos os nossos objectivos, e ganhamos mais curiosidade perante os outros... verificamos que só se aproximam de nós pelo físico ou por aquilo que representamos (financeiramente, socialmente, etc.). Tudo isto é um grande contra-senso, mas é o que acontece.
Tive uma situação parecida com a tua, embora diferente. Eu também tenho menos de 1.70m e não conseguia ganhar peso. Era super magro, mesmo magro… quase anoréctico. Por mais que comesse, não engordava. E até há pouco tempo achava-me a pessoa mais feia do mundo. Depois olhava ao espelho e não gostava do que via. Até que aos 25 anos resolvi inscrever-me num ginásio e fui ganhando corpo, nada de especial, mas que dava para provocar alguns olhares. O que aconteceu é que algumas pessoas aproximaram-se só pelo físico… Ou seja, eu não era mais do que uma “tusa” momentânea. E isso levou-me a pensar muito e a verificar que não iria ser feliz assim, porque só existia um motivo. Uma realidade. E conclui, que se uma pessoa tiver que gostar de ti, gosta de ti pelo que és, caso contrário aproxima-se de ti porque tens um corpo de sonho, ou porque ganhas bem ou pior ainda, porque consegue ter vantagens contigo. Nunca reveles tudo, guarda sempre qualquer coisa para o fim. Até alguns dos teus traumas.

blogger disse...

Sim, é um facto, eu proprio ao fim de um ano no ginasio já notava isso, os olhares, os comentarios, etc. Poucas vezes há que alguem goste de ti simplesmente pela pessoa que és, mas quando isso acontece, descobres que valeu apena esperar.