A Puta Festivaleira

Ah pois é! Haveria de chegar o dia em que iria tocar neste assunto tão caro a este vosso escritor. A verdade é que o mundo está cheio desta raça! E quando menos se espera, lá está ela, à espreita, envergonhada, à espera de se revelar, e quando tal acontece, é o festim completo. É vídeos no youtube, é sites, é blogues, é fotos no hi5, é tudo e mais alguma coisa.

Ora bem, vamos lá tentar por isto em termos científicos. Esta categoria de putas pode subdividir-se em três outras pequenas categorias:

A Puta Festivaleiró-dependente: esta é aquela que sabe o nome dos cantores. Que sabe o ano em que cada país ganhou. Que sabe quantas vezes cada cantor participou e em que ano o fez. Que tem todos os anos em mp3, todos os festivais em dvd e xvid. Tem blogues ou sites sobre a mesma temática. Passam o ano a ouvir todas as canções passadas, sabem as letras de cor mesmo em línguas tão complicadas como o gaelic ou maltes. São também aquelas que estão cheias de conects e que conhecem todos os cantores nacionais ultra conhecidos como a Nucha, a Maria vai com as outras, o Joaquim Barrigudo, e outros que tais que não me consigo recordar. Estão sempre a par de todas as grandes novidades (quem vai cantar o quê, como, quando, como vão vestidos, etc). são também aqueles que vão sempre aos países que organizam o festival, quer aos ensaios, quer as semi finais, quer a final, mesmo que Portugal não passe adiante. São aqueles que organizam conferencias, jantares, boas vindas ou despedidas aos cantores que vão representar as nossas cores. São aqueles que tiram fotos com os concorrentes do festival nacional, que conseguem sempre todas as musicas e mais alguma, quando todos julgamos que não existia, e ficam todos contente com isso.

Há depois a Puta-Festivaleira-Sazonal: posso incluir-me neste aqui. Para estas a actividade começa a meandros de Fevereiro e termina no meio de Maio, mais coisa, menos coisa. Começa lentamente a ler as noticias do mundo eurovisivo e a tomar atenção as semi finais dos vários países. Gosta de saber quem vai e quem não vai, as razoes politicas porque não vai e gosta de saber de antemão as canções que vão ao certame. Não decora as letras, mas faz uma lista de preferências. Vê o festival atentamente, as semi finais e final e grita toda contente se Portugal passa à final. Tem vontade de pegar no carro e ir para o marques de pombal apitar e gritar mas tem vergonha de ser a única pessoa a faze-lo. Tem o sonho que em Portugal um dia será como no resto da Europa onde se enchem praças publicas na rua com ecrãs gigantes, coisas semelhantes ao europeu de futebol. É também aquela que argumenta com os amigos que lhe fazem aquele olhar de tédio, de “please”, de “santa paciência” quando lhes explica que o festival até é uma coisa gira.

Por fim há a puta-Festivaleira-Despistada: gosta do festival mas não lhe liga muito. Viu por acaso a final nacional e sabe se gosta ou não da nossa canção. Não liga muito ao resto e apanha uma surpresa quando ouve as canções em directo na televisão pela primeira vez.

E é assim. Enquanto em Portugal é a bimbisse, lá fora é considerado o máximo. Praças enchem-se. Existem Tours internacionais de promoções dos cantores. Há espectáculos em todas as televisões, nos jornais. Os cds atingem tops de vendas superiores a outros cantores da pop internacional, há festas temáticas nas discotecas, há discotecas apenas vocacionadas para esse género musical. Há migrações todos os anos para o local do certame, há fóruns, há discussões na internet, youtube e facebook. Há livros que se escrevem, há estatísticas do Google com previsões. Há países fora da Europa que religiosamente assistem e sonham em um dia participar no festival. Existem questões politicas que determinam as participações no festival, existem letras que tendem a sensibilizar as pessoas e a provocar reacções e há canções que marcaram para sempre. Há sonhos de muita gente que gostava de ser conhecida nem que fosse por três minutos, de ser cantora. Há muita bicha maluca com os pitos aos saltos a cantar, a despir-se em palco, sim, porque cantores paneleiros é o que não tem faltado. Todos os indivíduos que aparecem nas fotos o são.